segunda-feira, 25 de agosto de 2014

cascata


fez-se ao caminho das
vidálias
tem sal
e restos de baleia
deu a volta
e ficou-se

montanhosa no meio

e os miúdos a cheirar
começaram a ter ramos
por cima

agora não deixam passar




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

'velagem'


fino vislumbre
da amplitude
suspensa na aragem
lenta e plácida

só se comem
as pedras
quando o peixe
resiste
nas rochas
temperadas
só com sal
e velas
roucas
a desistir

sem âncora





meu avô tinha oito
irmãos agarrados
aos furos vigiados
pelo farol
mas um faleceu
a pôr bandeira
era o único
na praia

foi bonito para
as tartarugas
roxo e transparente
serviu de termómetro
e via
d'escape
os garajaus mergulhadores
não as caçavam






primeiros-socorros


faz-me um garrote
se sangrar
num copo em ventre
partido

não olhes para trás
e torce
não olhes sequer
aperta

até ao areal

azul estrelado
sem verbo



cantilena


furão, furão
de cara medonha
revolve nas guelras
d'aqui, d'acolá

furão, furão
devolve as escamas
descobre as cigarras
retorna amanhã

furão, furão
de porte sisudo
impele-me a tudo
nas costas de Pã



'sole' baixo


durante muito tempo
enfraqueci
os albatrozes de azul
profundo

entravam-me na garganta
moluscos
securas
um abafado trauteante

sobe baixinho
pelas encostas
altas em
sangrias barrentas

não dão mais uva
de cheiro
que o odor
a mar




desafio


assim que te 
desengasgues
faz-me uma rima
se és homem

e tira a espinha
da sopa
de letras

pinta as sete
canadas
com calçado próprio

antes que engulas a salada
de frutas
verbalizadas

que não voltas a
cegar com
desafio posto