sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"borbulhas"


não sei que bicho
me mordeu
nunca o vi
era muito pequenino

dantes havia 
umas escadinhas
e vegetação à volta

tudo mudou quando chegaram
à cidade
grandes projetistas
de armazéns
e rotundas quadriláteras
que semeiam alcatrão

era muito pequenino
escapou
mas já não há
vegetação
nem escadinhas
à volta.



"agon"


aparentemente deixei
de jogar
quando percebi
que abria um buraco
no estômago
onde combatiam
copas



sábado, 13 de setembro de 2014

dálmata


havia de dizer
que
havia de mostrar
te
havia de haver
se

comigo 

que te mostres
que se diga
que te hajas

a multiplicar as malhas
sociais

a dar cordel 
em nada

que existi se


sem manchas

e offline




rotina


ela comia e olhava
para trás
a barriga apontava
para a frente
onde estava ele

bebia em goles pequenos
olhava sem interesse
um jogo qualquer

atrás de si cresciam
cicatrizes de ciúme
que não adivinhava

até ao dia
em que partiu

a loiça.




dois terços e meio
de joelhos
sobre a escadaria
de Babel

ainda não se vê
nas alturas
a entrada do templo
mas há

fé sarnenta
e gaitas de fools

apodrece mamão
na cesta proibida
de frugalidades

que se podem saborear
a penas
nas soleiras das janelas
fechadas




maternidade


estima a tua mulher
estima o teu filho
estima a tua sogra
o teu sogro
escuita
escuita

não te dei autorização
para falar assim
aberta mente
sobre o que dizes
não ter

sabias que os morangos
perdem
sabor quando
afogados
em nata.




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"éfe"



pelas línguas da virtude
trauteei sonatas
de espada em punho

sem algibeira
para o resto
do gengibre do jantar

mas havia festins e folias
e tartes de maçã

entre as gotas
adocicadas
do elixir chuvoso
das que não
se molhavam

- às vezes passavam
e pediam para tirar fotografias



cousas da vida


uma sexta-feira
um dia limpo
e cai-me no olho
era azar a mais
fui andando
não melhorou
continuei caminho
a soro
não saía

duas horas à espera
e o médico disse
"the sky spat on you"




olhassem
mote dado
familiaridade
de indústrias passageiras
para uma furna
sem alma
fresca
antes que o crepúsculo

quase liquidado
adicione indigentes
quase liquidos
aos agriões vespertinos

afinidade
sem mácula
perdida
na roda da bicleta
sem montanhas



tropeço


sem tesão
sem preço
sem fundo

saltou
alianças
de roldanas
ensarilhadas

não a mesma mulher
de arame
na brincadeira
              do poço




o que sem pensar
demais
deu curvas e voltas
espirais
sem retorno
até ao ponto de
rebuçado



bebendo uma sidra
canteiros silenciosos
aves de papel




andava pelas canadas
de noite
pensando que era
pássaro nocturno
gralhando impropérios

diziam que sofria
de amores
mas não.

tinha fomes e fúrias
tumores frios
quase científicos na forma
analítica
de calcar as pedras

também galgava precipícios
minuciosamente
antes que alvorassem
bagatelas

essa orquestra de brados
autofágicos
que mascam os dias



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

lusco-fusco


olhos secos
quando era criança
molhados na puberdade
enxutos no sovaco
alcoviteiro
da quase-vida
moída em
espaços abertos
frinchas permeáveis
lamas vermelhas
desbotadas pela lixívia
do quase-ser
primeira apanha

pela manhã ouvi um ruído
era o pôr-do-sol.




segunda-feira, 25 de agosto de 2014

cascata


fez-se ao caminho das
vidálias
tem sal
e restos de baleia
deu a volta
e ficou-se

montanhosa no meio

e os miúdos a cheirar
começaram a ter ramos
por cima

agora não deixam passar




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

'velagem'


fino vislumbre
da amplitude
suspensa na aragem
lenta e plácida

só se comem
as pedras
quando o peixe
resiste
nas rochas
temperadas
só com sal
e velas
roucas
a desistir

sem âncora





meu avô tinha oito
irmãos agarrados
aos furos vigiados
pelo farol
mas um faleceu
a pôr bandeira
era o único
na praia

foi bonito para
as tartarugas
roxo e transparente
serviu de termómetro
e via
d'escape
os garajaus mergulhadores
não as caçavam






primeiros-socorros


faz-me um garrote
se sangrar
num copo em ventre
partido

não olhes para trás
e torce
não olhes sequer
aperta

até ao areal

azul estrelado
sem verbo



cantilena


furão, furão
de cara medonha
revolve nas guelras
d'aqui, d'acolá

furão, furão
devolve as escamas
descobre as cigarras
retorna amanhã

furão, furão
de porte sisudo
impele-me a tudo
nas costas de Pã



'sole' baixo


durante muito tempo
enfraqueci
os albatrozes de azul
profundo

entravam-me na garganta
moluscos
securas
um abafado trauteante

sobe baixinho
pelas encostas
altas em
sangrias barrentas

não dão mais uva
de cheiro
que o odor
a mar




desafio


assim que te 
desengasgues
faz-me uma rima
se és homem

e tira a espinha
da sopa
de letras

pinta as sete
canadas
com calçado próprio

antes que engulas a salada
de frutas
verbalizadas

que não voltas a
cegar com
desafio posto




sexta-feira, 18 de julho de 2014

"Qui-meras Aka-dérmicas" V


deve permanecer sentado na cadeirinha
oito horas após
accionar um botão
de rosas.

: considerações posteriores:
são rascunhos, Senhor!





"militância"


medo, disciplina
medonha piscina
armada latrina
demente captação
pus
vasos no pátio
antes que eles chegassem
a chuva não os regou
proscratinei a vontade
de cerrar os dentes
fileiras desalinhadas
em exército de
garrafas de água das pedras
com capacetes e tudo

não sei quem foi
o cabrão que
guardou as armas em PDF's

encriptados.



segunda-feira, 30 de junho de 2014

terça-feira, 24 de junho de 2014

 
chegaram em magotes
chilreavam
como pássaros
ao pequeno-almoço
em busca de um Houdini
que desapertasse
as camisas de força
em vão tentaram sair
de baixo
da escada

tocavam em fagotes
horrorizavam
como morcegos
a cear
em busca d'O
que ilustrasse
a impotência dos corpos
que escapavam
de baixo
da terra
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014